A cetamina é uma substância já muito conhecida e utilizada como forma de anestesia. Entretanto, há diversos estudos que comprovam que o uso da cetamina em pacientes psiquiátricos pode, além de aliviar os sintomas da depressão, reduzir os pensamentos suicidas.
Infelizmente, o suicídio é uma realidade bastante presente atualmente. Para se ter uma ideia, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), contabilizam-se cerca de 800.000 suicídios anuais ao redor do mundo. No entanto, ainda há que se levar em consideração que esse é o número de fatos consumados, se somado com as tentativas, o número é ainda mais assustador.
De acordo com os órgãos de saúde, a média estimada para cada óbito, é de 10 a 20 tentativas não-consumadas. Além disso, segundo a OPAS, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. Sendo que em 79% dos casos mundiais ocorrem em países de baixa e média renda.
Considerando tais aspectos, os números extremamente expressivos demonstram o tamanho real do problema, como também demonstram a necessidade de alternativas farmacológicas ou terapêuticas a fim de reduzir tal situação.
Pensando na gravidade que traz a ideação suicida não somente para um indivíduo como também para o coletivo a sua volta, o desenvolvimento de uma substância com ação rápida é um divisor de águas.
Nesse aspecto, a cetamina é hoje um dos principais tratamentos indicados por médicos do mundo para diminuir os impactos da depressão e reduzir os pensamentos suicidas. Vamos entender no decorrer deste artigo como a cetamina pode ajudar e transformar a situação atual.
O que é Cetamina?
Em resumo, a cetamina ou ketamina como também é chamada, trata-se de uma substância já bastante explorada para fins anestésicos, tanto em humanos quanto em animais.
Há 50 anos no mercado, a cetamina teve a sua primeira experiência quanto a utilização para fins psiquiátricos, apenas nos anos 2000. A partir de então, foi dado início a uma série de estudos para avaliar a utilização e eficácia nesses casos.
Atualmente, a cetamina é liberada pela ANVISA para uso restrito a estabelecimentos de saúde e para médicos autorizados. Aqui, vale destacar que o processo de autorização é bastante burocrático, logo há uma pequena parcela de profissionais de fato autorizados a utilizar o medicamento.
Presente em diversos estudos, a cetamina vem se mostrando cada vez mais interessante no combate a enfermidades como depressão ou pensamentos suicidas. Vale ressaltar que quanto às doses do fármaco para estes casos, esta tende a ser bem menor quando comparada ao uso como sedativo ou controle da dor.
Normalmente, a cetamina é aplicada com acompanhamento médico durante todo o processo. Posteriormente à infusão, o acompanhamento segue se mostrando necessário.
Apesar de todos os benefícios, a cetamina apresenta um pequeno rol de possíveis efeitos colaterais, havendo, portanto, algumas restrições sobre quem pode ou não fazer uso do medicamento. Por esse motivo e por outros, o acompanhamento e a indicação médica é imprescindível.
Para quem é e quem não é indica o usa da Cetamina
Em poucas palavras, a cetamina é indicada para pessoas que não respondem bem aos tratamentos convencionais, para pessoas intolerantes a esses tratamentos e para pessoas que apresentam ideação suicida e risco de suicídio alto.
Por sua vez, a cetamina não é recomendada em casos em que uma elevação significante da pressão arterial possa de alguma forma, constituir grave risco ao paciente. Sendo também contra indicada para pacientes que demonstrem hipersensibilidade à cetamina.
Como os antidepressivos normais agem no combate à depressão resistente e ao pensamento suicida?
De maneira geral, os antidepressivos têm, pontualmente, uma ação diferente da cetamina, pois agem diretamente no sistema nervoso, cuja função é regular os fluxos de neurotransmissores como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina.
Apesar de serem substâncias diferentes, de forma geral, todos os antidepressivos convencionais fazem parte do grupo das monoaminas. Tal característica é considerada como a principal falha desse tipo de remédio frente à depressão resistente: todos incidem num mesmo grupo.
Já para a ideação suicida, o principal problema encontrado nos antidepressivos é a corrida contra o tempo. Esse tipo de medicamento geralmente demora cerca de 15 dias para começar a surtir efeito, não atingindo ainda seu ápice dentro desse prazo.
Na maioria das vezes a intervenção precisa ser certeira e ágil, portanto esse período de aproximadamente duas semanas se mostra como tempo demais para ser esperado. Por outro lado, os primeiros efeitos da cetamina já podem ser observados alguns minutos depois de sua aplicação.
Depressão resistente e pensamentos suicidas: como a Cetamina pode te ajudar?
Ao contrário dos antidepressivos convencionais, a cetamina não age nas monoaminas, mas sim, em outro neurotransmissor: o glutamato. Neste ponto, sua principal função é restabelecer a comunicação dos circuitos cerebrais, aumentar as sinapses e, assim, normalizar o fluxo dos neurotransmissores.
Para quem sofre de depressão resistente, tais características podem ser consideradas como a cereja do bolo, uma vez que sua ação difere dos demais, possui ação mais rápida e eficiente. Dito isso, pacientes que não respondem aos tratamentos comuns, tendem a obter sucesso com a cetamina.
Aos que sofrem com a ideação suicida, a grande vantagem é, de fato, a vitória sobre o tempo. Após a infusão, a resposta à substância tende a ser observada em questão de horas, podendo ser até minutos, de acordo com o organismo de cada um. Em uma situação que apresenta risco a cada instante que passa, esse benefício é dos mais importantes a serem observados.
Por que a Cetamina é considerada uma revolução no tratamento psiquiátrico?
Só o fato de conseguir usar uma classe nova, a classe dos psicodélicos, para doenças psiquiátricas já seria por si só um tópico bastante relevante para chamar a cetamina de revolucionária.
Porém, o mais admirável da substância é o poder de conseguir atuar onde mais nenhum outro fármaco conseguiu até o momento: agir em um neurotransmissor diferente do utilizado pelos outros 55 princípios ativos já desenvolvidos até hoje e resolver de forma tão assertiva o que nenhum deles conseguiu, reduzindo de fato a ideação suicida.
Obtendo o controle de pensamentos suicidas de forma ágil, um plano minucioso poderá ser traçado. A concomitância de outros medicamentos ou a psicoterapia poderão ajudar de forma mais eficiente o paciente e, assim, obter sucesso na intervenção.
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